terça-feira, julho 12, 2011

É importante integrar a afetividade à prática docente? Poderá ela interferir na vida do educando, e do educador, a ponto de transformar a realidade educacional na qual vivemos?



Na escola, a afetividade vem sendo debatida e defendida há alguns anos por psicólogos, pedagogos, psicopedagogos, profissionais da educação e saúde em geral. Porém, percebemos ainda uma grande defasagem em prestar um serviço profissional que alie suas técnicas próprias à uma interação eficaz de desenvolvimento de um relacionamento baseado no emocional. Professores e educadores que incluíram essa teoria no seu cotidiano apontam para os evidentes resultados positivos que conseguiram alcançar. Mas, antes de pensarmos na escola como ambiente para desenvolvimento da personalidade da criança, devemos alertar para o fato de que esta criança, ao entrar na escola, já tem uma vida cheia de experiências, estímulos e respostas que aprendeu a dar diante de determinadas situações de sua vida diária. Assim sendo, vou tratar um pouco do papel da mãe, nos primeiros anos de vida da criança, na construção de uma personalidade saudável de seus filhos.


A problemática emocional está ligada aos conflitos interiores e dispersão do indivíduo, o que dificulta sua interação com o meio, prejudica sua capacidade de atenção, concentração e de relacionamento interpessoal. A figura materna tem papel decisivo na "prevenção" desses problemas. O afeto que ela dedica à criança, especialmente nos cinco primeiros anos de vida, é responsável por grande parcela da sua personalidade na vida adulta, pois a ligação mãe-filho nessa faixa etária é muito intensa e a criança se fixa na mãe, tendo-a como exemplo e modelo para suas atitudes futuras.

NOVAES (1984) nos mostra que a carência afetiva determina uma série de fatores que prejudicam o desenvolvimento global da criança, tanto no âmbito físico como psíquico. Essa carência pode ser identificada pela incapacidade do indivíduo em manter trocas afetivas normais com outros seres humanos. Segundo ela, esses sintomas diagnosticados na escola é conseqüência de um descontrole na relação mãe-filho, pois tanto a carência como o excessivo cuidado pode acarretar problemas emocionais graves na criança pequena.
O desvinculamento do seio da mãe poderá desencadear sintomas de angústia e mal-estar que variam conforme a sua idade, grau de dependência dos pais e, principalmente, quanto a natureza dos cuidados maternos. Essa angústia revela uma relação emocional e afetiva normal entre a mãe e a criança, pois retrata uma quebra no processo de afetividade que vem sendo construído por ambas (NOVAES, 1984).

Na escola, a criança terá dificuldades de adaptação ao meio de acordo com o grau de relacionamento com a mãe. Ao nascer, a criança se fixa naquela pessoa que ela considera de sua posse, no caso a mãe. Na escola ela terá de se relacionar com um número bem maior de pessoas ao qual está acostumada e isso é um fator importante na avaliação do desenvolvimento emocional da criança, funciona como um teste. Através dele podemos definir novos rumos na educação da criança e dos seus pais. A socialização com outras crianças de sua idade e professores é uma nova etapa no processo de formação da personalidade da criança e deve ocorrer de forma saudável. A escola deve oferecer um ambiente que evite a criança desenvolver angústias e mal-estar, característicos do afastamento da figura materna.
De acordo com NOVAES (1984) a carência afetiva materna não só produz choque imediato, mas deterioração progressiva, tanto mais grave, quanto mais longa e precoce for a carência. Essa deterioração é um processo evolutivo que pode culminar numa desintegração da personalidade, como também provocar distúrbios sérios na área somática. Enfim, a angústia provocada, em crianças pequenas, pela perda ou separação da figura materna determina mecanismos de defesa que podem comprometer e modificar a sua personalidade.

Há, dessa forma, uma grande importância do primeiro professor da criança, pois ele será, paraela, a substituição da mãe. Cabe então a esse profissional o devido cuidado de manter um bom relacionamento que dê continuidadeà relação saudável mãe-filho ou alterar seu comportamento para elevar a afetividade de uma criança que demonstra problemas emocionais decorrentes da relação que tem com sua mãe. Sendo assim, o professor não pode estar alheio à vida do aluno. É necessário que ele conheça os pais, seus problemas físicos, psíquicos e um pouco da vida que levava antes de ingressar na escola. Só assim poderá entender as dificuldades na adaptação da criança ao novo meio e no processo de aprendizagem.

Tanto o excesso como a falta de afeto pode prejudicar a aprendizagem. Por isso, sua maturidade afetivo-emocional deve estar até certo ponto desenvolvida quando esta é levada a ingressar na escola. Esse grau de maturidade é o que vai definir os rumos do desenvolvimento cognitivo da criança e para que tudo corra bem ela precisa ter um clima de segurança emocional tanto em casa como na escola.

Problemas físicos e psíquicos são facilmente identificados como indicadores dos problemas de adaptação e aprendizagem das crianças na escola. Não podemos deixar de lado os problemas emocionais. A escola e professores, especialmente os de maternal, devem prever e estar preparados para atender prontamente essas crianças com problemas emocionais decorrentes de sua relação familiar, propiciando-lhes um clima de estabilidade emocional e contribuindo para que o ingresso e permanência da criança na escola ocorram de maneira normal e tranqüila, onde haja uma socialização efetiva dessa criança com os professores e funcionários da instituição bem como com as demais crianças. O nível de aprendizagem deve ser avaliado observando o fator emocional que condiciona a criança a ter certas atitudes como desatenção, falta de concentração, apatia, agressividade ou indiferença, dificultando seu desenvolvimento cognitivo.

Problemas de natureza emocional e psíquica devem ser trabalhados em conjunto com a escola, família e um profissional, psicólogo ou psicopedagogo, que estará responsável pela avaliação e intervenção terapêutica auxiliada pelos professores e familiares da criança.
Todo professor em sua experiência docente e também discente acumula conhecimentos que serão utilizados tanto em sua prática como em sua vida pessoal. Conhecimentos resultantes principalmente de relacionamentos e vivências com os outros, ou seja, aprendemos, sobretudo, com o jogo da vida, onde uma pessoa sempre tem algo a ensinar a outra e, ao mesmo tempo, a aprender com ela.
Para FREIRE (1996) "... quem forma se forma e re-forma ao formar e quem é formado forma-se e forma ao ser formado", confirmando a necessidade de uma educação global, visando o completo desenvolvimento do indivíduo e a compreensão do docente de que o processo de ensino e aprendizagem não está centrado no conhecimento do professor, mas que deve ser construído e produzido a partir da interação deste com o educando. A criança deve ser estimulada em todas as habilidades e, para isso, o professor deve estar ciente de que ensinar é uma especificidade humana, não é transferir conhecimento, e exige a participação de todos os segmentos envolvidos.
Cuidar de nossos filhos e alunos faz parte da necessidade de perpetuarmos a nós e nossa espécie. Porém, na espécie humana esse cuidado não se resume apenas a apresentar-lhes o necessário à sua sobrevivência, como no estilo vegetal, ou fazê-los buscar o indispensável através de seus próprios recursos sem se preocupar com o que o rodeia, como no estilo animal, mas educar humanamente para o verdadeiro sentido de sermos humanos, a solidariedade. E esse objetivo só será alcançado por meio da formação de pessoas afetivamente bem educadas.

Por José Robério 

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